No tempo das viradas: Yuill Herbert sobre clima, cooperação e pontos de inflexão

Yuill Herbert

À medida que se aproxima a Cúpula Global de Inovação Cooperativa (GICS) 2025, tivemos a oportunidade de conversar com Yuill Herbert, especialista reconhecido em planejamento climático e participante ativo em processos de transição internacional. Ele abrirá a Cúpula com uma palestra inaugural sobre o tema “Os pontos de inflexão”, antes de facilitar um workshop colaborativo sobre os grandes desafios globais.

Nesta entrevista, Yuill compartilha sua visão da mudança, sua trajetória e sua convicção sobre o papel das cooperativas diante dos pontos de inflexão do nosso tempo.

1. Você tem uma formação incomum em filosofia, educação de adultos e ação climática. O que o levou a esse cruzamento entre pensamento crítico e transição ecológica?
Cresci nas montanhas do oeste do Canadá, onde ainda existem fragmentos de floresta primitiva. Aos treze anos, fiquei impressionado com cedros gigantes de mais de mil anos. Essas florestas estavam sendo destruídas pela exploração industrial e isso me levou ao ativismo — mas também a buscar compreender o “porquê” em uma perspectiva mais ampla. Essa busca me levou à biologia da conservação, depois ao estudo dos sistemas econômicos e, por fim, à filosofia. Cooperativas como a Harrop Procter Community Forest Co-op mostravam um contraponto real ao paradigma da silvicultura industrial e eram um farol de esperança. Na universidade, descobri o Movimento de Antigonish e a riqueza da teoria e da prática da educação de adultos como chave para entender o mundo. Isso continua a me inspirar profundamente.

2. O tema da Cúpula é “Os pontos de inflexão”. Na sua experiência, o que torna certos momentos propícios a mudanças decisivas?
É um tema fascinante, mas que soa preocupante para quem acompanha as mudanças climáticas. Nesse contexto, pontos de inflexão são limiares além dos quais as mudanças se tornam irreversíveis — como o colapso das calotas polares ou da Amazônia. Há sinais claros de que estamos próximos desses limiares. Mas também existem pontos de inflexão sociais e econômicos, que podem trazer esperança. A queda acelerada do custo da energia solar, por exemplo, desafia a indústria petroquímica em nível global, provocando reações políticas em países como os EUA. Ao mesmo tempo, abre novas possibilidades de propriedade democrática da energia.

3. Como você enxerga o papel das cooperativas diante desses pontos de inflexão — sejam eles climáticos, sociais ou de governança global?
Acredito firmemente que as cooperativas são uma resposta estrutural ao conjunto de crises que enfrentamos — e uma resposta que não exige violência ou revolução. Elas combatem a desigualdade ao impedir a concentração de riqueza. Elas fortalecem a segurança econômica ao cultivar a resiliência coletiva em vez do individualismo. Como escolas de democracia, promovem confiança e responsabilidade em uma era de desinformação. E colocam as necessidades à frente do lucro, uma orientação essencial para enfrentar a crise climática e ecológica.

4. Você também facilitará um workshop sobre soluções colaborativas para os grandes desafios globais. O que torna, na sua visão, uma colaboração verdadeiramente transformadora?
A mudança transformadora difere da incremental porque exige atravessar diferentes níveis de aprendizagem: primeiro, melhorar práticas existentes; depois, questionar pressupostos e reformular o problema; e, finalmente, transformar nossa própria visão de mundo. Pesquisadores reconhecem que apenas esse nível de mudança pode enfrentar problemas complexos como o clima. Para ser transformadora, a colaboração precisa permitir essa mudança de perspectiva. Uma das melhores formas de alcançá-la é reunir pessoas com visões muito diferentes e criar condições de confiança e empenho compartilhado para o diálogo verdadeiro. Essa foi a minha experiência, por exemplo, trabalhando com Primeiras Nações no Canadá.

5. O que você gostaria que os participantes levassem da sua contribuição ao GICS 2025 — tanto da palestra quanto do workshop?
Espero que os participantes não vejam as cooperativas como empreendimentos de nicho nas economias capitalistas, mas como uma solução estrutural para os grandes desafios do nosso tempo. E se isso for verdade, então precisamos expandir nosso imaginário coletivo para vislumbrar um papel profundamente renovado das cooperativas em nossas sociedades — e juntos traçar os caminhos para chegar lá.

Related TALKS