“A transformação digital, quando conduzida segundo os princípios cooperativos, não é apenas uma abordagem defensiva — é uma oportunidade de assumir a liderança.”
Com mais de 20 anos de experiência a serviço do movimento cooperativo em todo o mundo, a DotCoop está na vanguarda para ajudar as cooperativas a reforçar a sua presença digital. Nesta entrevista, a sua diretora-geral, Violetta Nafpaktia, partilha a sua visão dos principais desafios digitais que as cooperativas enfrentam, das oportunidades oferecidas por uma transformação digital guiada pelos princípios cooperativos, bem como dos resultados concretos que espera ver emergir no final desta discussão.
GICS: Quais são, na sua opinião, os principais desafios digitais que as cooperativas enfrentam na transformação das suas operações?
Violetta Nafpaktia: Do meu ponto de vista na DotCoop, uma organização que serve e acompanha há mais de 20 anos um movimento cooperativo extremamente diversificado, os desafios agrupam-se em três grandes eixos. O primeiro é o da soberania e da dependência digitais. Muitas cooperativas ainda dependem das grandes plataformas tecnológicas centralizadas e com fins lucrativos, que não partilham os nossos valores nem os nossos princípios. O segundo desafio diz respeito à proteção dos dados e à confiança. Os membros esperam, com razão, que as suas informações pessoais sejam protegidas. Porém, uma única fuga pode prejudicar não apenas a reputação de uma cooperativa, mas também a confiança em todo o movimento. O terceiro desafio é o das capacidades e da inclusão. Muitas cooperativas — em particular as mais pequenas ou emergentes — têm dificuldade em aceder às competências técnicas, aos investimentos ou às infraestruturas necessárias para se digitalizarem de uma forma realmente alinhada com os nossos valores e princípios. Se nada fizermos, a distância entre as cooperativas avançadas digitalmente e as que ficam para trás só aumentará.
GICS: Que oportunidades estratégicas oferece a adoção das tecnologias digitais para reforçar a colaboração e a confiança entre as cooperativas?
VF: A transformação digital, quando conduzida de acordo com os princípios cooperativos, não é simplesmente uma medida defensiva: é uma oportunidade de assumir a liderança. Uma das primeiras oportunidades está ligada à identidade e à visibilidade. Ferramentas como o domínio .coop e a Marca Coop oferecem às cooperativas uma identidade digital distintiva que as diferencia num espaço online saturado, ao mesmo tempo que transmitem sinais de confiança, de valores e de propriedade coletiva. Outra oportunidade essencial é o desenvolvimento de infraestruturas digitais partilhadas. Ao mutualizarem os seus recursos, as cooperativas podem criar plataformas e ecossistemas de dados governados pelos membros, e não por investidores. Isto demonstra ao resto do mundo que alternativas ao Big Tech não são apenas possíveis, mas preferíveis.
Existe também um forte potencial de colaboração mundial. A tecnologia permite às cooperativas aplicar o 6.º Princípio de forma mais ativa na era digital. Ela permite-nos ultrapassar fronteiras geográficas, ligar-nos a pares em todo o mundo e criar comunidades digitais federadas que reforçam a solidariedade transnacional. Finalmente, a transformação digital oferece a possibilidade de pôr em prática os valores cooperativos e de dar maior visibilidade ao modelo de negócio cooperativo. A transparência, a governação democrática e a partilha de benefícios podem ser integradas diretamente nas plataformas digitais, fazendo da confiança não apenas um simples slogan, mas uma funcionalidade inscrita no coração do sistema. Num contexto em que muitos dos desafios da sociedade foram alimentados pelo Big Tech, o movimento cooperativo tem um papel crucial a desempenhar para contrariar o capitalismo digital e os seus efeitos negativos sobre as nossas comunidades.
GICS: Que resultados concretos espera que os participantes possam pôr em prática no final desta sessão?
VF: Espero que os participantes saiam com pelo menos três elementos concretos e acionáveis. O primeiro é uma melhor definição das suas prioridades digitais — saber quais os riscos ou oportunidades mais importantes para a sua cooperativa e compreender como agir coletivamente em vez de individualmente. O segundo é um compromisso reforçado com a identidade digital cooperativa. Quer seja através da adoção do domínio .coop ou da utilização de ferramentas desenvolvidas por e para cooperativas, cada passo que afirma “somos uma cooperativa” online contribui para reforçar a confiança no movimento como um todo. O terceiro é um impulso para projetos partilhados. O ideal é que esta sessão suscite colaborações — sejam cooperativas de dados, plataformas cooperativas ou iniciativas comuns para ecossistemas digitais mais equitativos — que continuem a desenvolver-se muito para além da discussão de hoje.