Entrevista com Stéphane Bertrand, Presidente da Rede Internacional de Inovação Cooperativa (RICI) e cofundador do Global Innovation Coop Summit (GICS)

Enraizada nas suas comunidades, a economia cooperativa é o modelo de negócio que melhor resistiu à crise financeira de 2008 e à recessão econômica que se seguiu, e continua hoje a ser um alicerce de resiliência e inovação para enfrentar os pontos de viragem que ameaçam a economia e a população mundial.” — Stéphane Bertrand

O PODER COOPERATIVO FACE AOS DESAFIOS MUNDIAIS

Por ocasião do Ano Internacional das Cooperativas 2025, Stéphane Bertrand explica por que a cimeira de Torres Vedras, em Portugal, será um encontro incontornável para o movimento cooperativo e mutualista mundial.

GICS: Stéphane Bertrand, você dirigiu as três edições da Cúpula Internacional das Cooperativas em Québec, incluindo a primeira em 2012, no rescaldo da recessão econômica, com o tema “O poder das cooperativas”. Como avalia a situação das cooperativas hoje, em 2025, num contexto mundial em plena mutação?
SB: Em 2025, as cooperativas evoluem num contexto mundial particularmente complexo. A combinação de instabilidades econômicas, tensões geopolíticas e crises climáticas põe à prova a sua resiliência e capacidade de adaptação. No entanto, o seu modelo — ancorado na economia real, frequentemente local, voltado para a comunidade e fundado na cooperação entre os membros — permite-lhes enfrentar esses desafios melhor do que muitas outras empresas. As cooperativas são, portanto, mais do que nunca chamadas a desempenhar um papel-chave no apoio às economias locais e nacionais e a propor soluções concretas diante destes pontos de viragem globais.

GICS: Por que o GICS 2025 é um encontro incontornável para o movimento cooperativo e mutualista?
SB: 2025 marca o Ano Internacional das Cooperativas, proclamado pelas Nações Unidas. Num contexto mundial instável — econômico, geopolítico e ambiental —, as cooperativas são chamadas mais do que nunca a desempenhar um papel crucial e apoiar as economias locais. O GICS oferece uma plataforma única para imaginar e partilhar soluções concretas e coletivas.

GICS: O tema de 2025, “Enfrentar os pontos de viragem através da inovação cooperativa”, o que evoca para si?
SB: Ele reflete um momento crítico e problemático: o crescimento das desigualdades entre as pessoas, as mudanças climáticas que forçam uma adaptação constante e permanente das formas de fazer, as tensões comerciais internacionais que inevitavelmente se refletem nas economias locais e o aumento dos custos dos insumos, que gera destruição da procura e, muitas vezes, o encerramento de mercados… As cooperativas, graças ao seu modelo resiliente e enraizado na economia real, são capazes de oferecer soluções onde outros modelos falham. A sua capacidade de estar mais atentas aos seus membros e clientes permite-lhes responder mais rapidamente a estes numerosos desafios.

GICS: Em que o modelo cooperativo é particularmente adequado aos desafios atuais?
SB: Ao contrário dos modelos capitalistas especulativos, as cooperativas assentam em bases sólidas. Os sete princípios cooperativos que as regem são um alicerce sólido de crescimento. Porque as cooperativas pertencem aos seus membros, servem as suas comunidades e se inscrevem na sustentabilidade, isto é o que faz delas um modelo de estabilidade e sempre pertinente na economia.

GICS: Por que escolheram Portugal como local de acolhimento da cimeira?
SB: Portugal é rico em cooperativas inovadoras, na agricultura, nas finanças, na saúde e na economia social. No entanto, elas continuam pouco conhecidas a nível internacional. O GICS 2025 dar-lhes-á visibilidade mundial, oferecerá oportunidades de negócios e um terreno de aprendizagem e inspiração aos participantes.

GICS: O que gostaria que os participantes retenham do GICS 2025?
SB: Que as cooperativas não são apenas um modelo econômico alternativo, mas um ator principal para construir um futuro inclusivo, sustentável e humano. No limiar da nova economia que quer afirmar-se, o modelo cooperativo é mais pertinente do que nunca. Cada um, à sua escala, pode contribuir positivamente para esta mudança pelas suas capacidades de inovação.

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