“Gostaria que os participantes saíssem com a convicção de que fazem parte de um movimento essencial para a nossa sociedade e que transformassem os aprendizados destes dois dias em uma rede pragmática e acionável para além do congresso.”
Às vésperas da plenária de encerramento do Global Innovation Coop Summit 2025, conversamos com Agnès Mathis, Diretora-Geral da Cooperatives Europe, sobre o futuro das cooperativas em um mundo em plena transformação.
Sob o tema “COOPERAR PARA O FUTURO — DA INOVAÇÃO À AÇÃO — CONSTRUINDO UM IMPACTO SUSTENTÁVEL”, esta sessão promete inspirar, reunir e desencadear ações concretas. Agnès explica como as cooperativas podem se tornar atores-chave da mudança, inovar diante dos grandes desafios contemporâneos e plantar as sementes de um futuro sustentável.
GICS: Poderia explicar em poucas palavras o tema da sua plenária e o que espera que os participantes levem consigo?
Agnès Matis: Como o próprio título sugere, o objetivo é ambicioso. Acima de tudo, espero que os participantes levem ideias de ações que contribuam de forma pragmática para a construção de uma sociedade e de um ambiente sustentável. Também pode ser uma oportunidade para descobrir que os desafios são muitas vezes semelhantes e abrir caminhos para uma colaboração cooperativa para superá-los.
GICS: Por que é essencial que cooperativas e mutualidades desempenhem um papel central na transição para um futuro sustentável?
AM: Isso é essencial por várias razões. A primeira é evidente. Sendo sociedades de pessoas, as cooperativas e as mutualidades são criadas como ferramentas econômicas para responder às necessidades dos seus membros ou da sociedade. Ter um papel na construção de um futuro sustentável é, portanto, a sua própria essência. Elas se inserem em uma visão de longo prazo que inclui, de forma intrínseca, a sustentabilidade. Vale notar que, antes de a ecologia ou o social se tornarem preocupações políticas — ou até mesmo mercados — nossas organizações já estavam ativas nesses temas. Elas funcionam como ferramentas econômicas de alerta para os desafios que nossa sociedade enfrenta em termos de sustentabilidade.
GICS: No contexto atual, marcado por pontos de inflexão como a transição energética, os desafios climáticos e as transformações econômicas, como a Cooperatives Europe vê o futuro das cooperativas e o seu papel diante desses desafios?
AM: Podemos encarar o futuro com confiança, mas também com realismo. É claro que o contexto atual representa desafios para as cooperativas e mutualidades. Elas não podem simplesmente se contentar em perdurar e ser resilientes. A estratégia cooperativa está ligada a uma perspectiva de longo prazo, baseada na visão dos homens e mulheres que são seus membros, e não em uma visão puramente econômica. Isso permite antecipar as necessidades e estabelecer um diálogo sobre como atendê-las. É importante não se isolar e depender apenas do enraizamento local de nossas organizações. A cooperação entre cooperativas e mutualidades é, portanto, igualmente essencial para a resiliência e a estratégia futura.
GICS: Quais são, na sua opinião, os principais desafios que as cooperativas enfrentam hoje para inovar e gerar impacto sustentável?
AM: Embora as cooperativas tenham consideráveis pontos fortes, operacionalmente elas podem enfrentar desafios específicos. O acesso restrito ao capital é um deles, sobretudo quando são necessários investimentos em inovação tecnológica e ambiental. A governança democrática também pode parecer um fator de lentidão em comparação com as respostas rápidas que os mercados nesses novos setores exigem. Finalmente, o modelo cooperativo também é desafiado por novas formas de empresa (como as B Corporations, empresas de impacto, etc.) que, talvez, tenham uma comunicação mais alinhada com a geração jovem.
GICS: A Cooperatives Europe representa uma ampla gama de cooperativas em toda a Europa. Pode nos contar como sua organização apoia seus membros em inovação e colaboração internacional?
AM: Como a região europeia da Aliança Cooperativa Internacional, nossos membros têm acesso a uma rede mundial de cooperativas e organizações cooperativas. Mas nosso papel vai além de conectá-los. Uma parceria assinada com a Comissão Europeia financia, por quatro anos, ações voltadas a melhorar o quadro em que as cooperativas se desenvolvem. Parte deste programa promove cooperações entre diferentes regiões da ACI. Por exemplo, organizamos recentemente um intercâmbio com a região das Américas sobre o tema da saúde. Mais especificamente em inovação, nossa ação de advocacy garante que todas as formas de inovação — incluindo a social — sejam levadas em conta. Trabalhamos para que as iniciativas legais ou os programas de apoio à inovação incluam as cooperativas. Esse é um trabalho coletivo realizado com nossos membros nacionais e nossos setores europeus.
GICS: Quais lições ou mensagens-chave você espera que os participantes do congresso levem consigo?
AM: Quero que saiam com a convicção de que fazem parte de um movimento essencial para nossa sociedade; que, ao voltarem de Torres Vedras, promovam os aprendizados desses dois dias e que os debates contribuam para criar uma rede pragmática e acionável além do congresso.
GICS: Para terminar, que conselho daria às cooperativas e mutualidades que desejam ampliar seu impacto e inovar em seu setor?
AM: Ouvir a sua base, envolver as gerações futuras e não hesitar em colaborar com outras cooperativas ou mutualidades.